sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

MEDICOS ESTRANGEIROS DE REGRESSO A BASE? VIVA A GLOBALIZAÇÃO E O "(...)DESEMPREGO"

Dirigentes de faculdades falam do actual número elevado de alunos e da dificuldade em acolher mais
Regresso de estudantes de Medicina no estrangeiro seria "enorme injustiça social"
29.01.2009 - 09h24 Catarina Gomes
O pai é médico e três dos quatro irmãos desta família da Trofa (distrito do Porto) também queriam ir para Medicina. Como não conseguiram entrar em Portugal, rumaram os três à República Checa. Marcelo Costa, o mais novo, está no segundo ano de Medicina em Pilsen e perante a intenção da ministra da Saúde de convidar os estudantes no estrangeiro a acabarem o curso em Portugal diz que gostaria de regressar.

Ana Jorge disse ontem, em entrevista à agência noticiosa Lusa, que pretende contornar o problema da falta de médicos convidando estudantes que estão a tirar o curso no estrangeiro a terminar a sua formação em faculdades portuguesas, algo que deverá acontecer já no próximo ano lectivo, acrescentou. Em causa estão cerca de 700 que estão a licenciar-se em Espanha, República Checa e Londres - destes, 200 estão a acabar o curso.

Marcelo, de 19 anos, acredita que muitos dos que tiveram que sair querem voltar. É pelo menos essa a impressão que tem nas conversas que tem com os colegas nacionais, cerca de 200 só em Pilsen. A prova de que muitos regressam são as suas duas irmãs que tiraram o curso em Praga e estão a trabalhar num hospital minhoto enquanto aguardam a entrada na especialidade. Números do final de 2007 revelam que quase seis por cento (59) dos 1013 portugueses que se inscreveram na Ordem dos Médicos se licenciaram no estrangeiro.

As reacções não se fizeram esperar. Os argumentos são sobretudo dois: a alegada injustiça social da medida e as dificuldades das faculdades e hospitais em dar formação a ainda mais estudantes.

Rui Guimarães, presidente do Conselho Nacional do Médico Interno, diz que as propinas anuais de um curso na República Checa podem chegar aos 15 mil euros, a que acrescem viagens e alojamento. Ou seja, só pode ir estudar para o estrangeiro quem "tem poder financeiro". Os estudantes que não entraram em Medicina, às vezes por décimas, e "não tiveram posses para ir o estrangeiro não vão gostar de ver estes colegas a passar-lhes à frente", sublinha.

Situação "revoltante"
O mesmo problema é levantado pela Associação Nacional de Estudantes de Medicina, que representa as associações de estudantes das sete escolas médicas do país. Em comunicado, refere que a medida cria "uma situação de clara injustiça para todos aqueles que acabam por não tirar o curso ou por demorar vários anos a ingressar", favorecendo "algumas famílias socialmente mais favorecidas".

O mesmo argumento é usado pelo bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, que considera a medida de uma "enorme injustiça social" e "revoltante" para os alunos com menos possibilidades financeiras. Pedro Nunes considerou que seria "mais sensato" estimular os alunos a regressar a Portugal no final dos seus cursos para exercer a actividade.

Capacidade formativa
Outro problema apontado à medida é a capacidade formativa das faculdades. As vagas em Medicina têm aumentado nos últimos anos - atingiram o recorde de 1614 em 2008/09 - e, segundo dirigentes ouvidos pela Lusa, já estão no limite das capacidades. O director da Faculdade de Medicina do Porto, Agostinho Marques, até considerou ser "uma ideia feliz" mas alertou para os "estrangulamentos". "As faculdades estão cheias". Para colmatar a imediata falta de médicos, sugeriu que se fosse antes "buscar médicos ao estrangeiro".

O reitor da Universidade de Lisboa, José Fernandes e Fernandes, também fala das dificuldades: "Não podemos ter uma turma com 30 estudantes à volta de um doente. Não podemos receber 700 alunos ou aumentar as vagas e continuar o patamar de qualidade de ensino". Mostra-se, contudo, aberto à medida, desde que sejam reservadas dez por cento das vagas para estes alunos, proporção que já era guardada para estudantes com licenciatura noutras áreas, e que sejam feitas parcerias com clínicas para que estes alunos possam ter a componente prática do curso fora do Hospital de Santa Maria.

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